Artistas gravam CD com mensagem inclusiva para o Movimento Down

O cantor Zeca Pagodinho, de perfil e com fones no ouvido, cantando ao microfone.
Crédito da foto: Paula Giolito/Agência Globo

Tolerância e inclusão são o tema do CD que ser]a lançado no Dia Internacional da Síndrome de Down, 21 de março, que marca o aniversário de 2 anos do Movimento Down.

Confira a matéria sobre a gravação do CD veiculada hoje pelo Jornal O Globo:

– No estúdio, Zeca Pagodinho canta os versos: “Do ponto de vista da terra quem gira é o sol/ Do ponto de vista da mãe todo filho é bonito/ Do ponto de vista do ponto o círculo é infinito/ Do ponto de vista do cego sirene é farol”. E conclui: “O jeito é manter o respeito e ponto final”. (Ouça acima.)

“Ponto de vista”, de João Cavalcanti e Edu Krieger, é exemplar clássico da filosofia do samba, na voz de quem tem mais autoridade para defendê-la — luxuosamente pousada sobre os metais e tambores da Orkestra Rumpilezz. Mas, no contexto em que a gravação está sendo produzida, ela soa como mensagem específica de tolerância e inclusão. A faixa está no CD “Toda cor”, uma iniciativa do Movimento Down. O disco reúne artistas como Ney Matogrosso, Tulipa Ruiz, Pato Fu e a “dupla” Elza Soares e João Gordo, num dueto. O álbum, que acaba de ficar pronto, não será comercializado, mas um show no dia 23 de março de 2014, no Circo Voador, marcará seu lançamento.

A mensagem inclusiva se apresenta já na escolha do repertório, como explica João Cavalcanti, diretor artístico do CD — e pai de Luna, que tem síndrome de Down. Ele também participa do disco ao lado de Nicolas Krassik e Cordestinos (“Eu sou o caso deles”, dos Novos Baianos) e do Casuarina (“Sorriso de criança”, clássico de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho).

— Quando fui convidado pela Maria Antonia (Goulart, coordenadora geral do Movimento Down), imaginei fazer um disco que não seria pensado como se fosse para crianças. Apenas uma das músicas do disco é originalmente infantil (“É tão lindo”, sucesso do Balão Mágico regravado agora por Elza e João Gordo). A escolha de artistas como Zeca e João Gordo, ícones de ambientes muito adultos, como a boemia e o punk, também toca nessa ideia. Não queríamos algo como “vou gravar para crianças com síndrome de Down”, e sim “vou fazer bonito como se fosse no meu disco”.

Assim, canções como “Paciência” (Lenine e Dudu Falcão), com Tulipa Ruiz, “Mulher barriguda” (Secos e Molhados), com Ney Matogrosso e Sargento Pimenta, e “Mamãe natureza” (Rita Lee), com Pato Fu, ganham novos significados.

— Algumas, como “Ponto de vista” e “É tão lindo” (“Mas se é amigo/ Não precisa mudar/ É tão lindo/ Deixa assim como está”) são mais literais. Mas uma canção como “Dia branco” (no disco com o 5 a Seco), que é originalmente romântica, vira outra coisa quando eu canto para minha filha. O “dia branco” pode ser um nascimento: “Se você vier/ Pro que der e vier/ Comigo/ Eu te prometo o sol” — diz Cavalcanti.

“Garotada quer rock’n’roll”

Os artistas entenderam e abraçaram o conceito do CD.

— Antigamente a gente quase nem falava desse assunto, síndrome de Down. Hoje temos mais inclusão, espero que o disco torne isso ainda mais forte — afirma Zeca.

Elza fala empolgada sobre o encontro com João Gordo:

— A garotada vai dançar muito. Ela não tem mais tempo para musiquinha “la-la-la”, quer rock’n’roll. E fazer isso com João Gordo foi muito gostoso, eu tenho a voz tão possante quanto a dele — diz a cantora, que, afinada com o conceito do CD, amplia o sentido do dueto. — Temos que fazer coisa nova sempre. Ninguém está pronto. O mundo é muito grande e você não o descobre totalmente nunca. Há muito obstáculo, muita beleza. A gente tem que ir atrás disso.

Fonte: O Globo