Andrieli tem síndrome de Down, está na faculdade e trabalha em uma biblioteca

Estudante cursa educação física em Lajeado, no Rio Grande do Sul. Foto: Caco Konzen/Zero Hora

Andrieli patina desde os quatros anos e, sobre os patins, chegou longe em suas conquistas. Com síndrome de Down, Andrieli Machado foi tema de uma reportagem de Zero Hora em 2001, quando, aos nove anos, tornou-se referência nacional para a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). Aos 21 anos, é um exemplo para a sociedade.

A jovem é um tipo especial de pessoa, e não pela alteração no cromossomo 21. Moradora de Estrela, no Vale do Taquari, é daquelas pessoas que não se rendem às dificuldades, não se acomodam com as limitações e ainda preservam o riso solto. Característica da síndrome de Down, a baixa tonicidade muscular é combatida com a patinação – que ainda pratica na Escola de Patinação da Sociedade Ginástica Estrela (Soges). Ficar em pé sobre os patins, porém, foi apenas a primeira vitória.

Aluna especial do curso de Educação Física da Univates, em Lajeado, Andrieli também exibe no currículo a Carteira de Trabalho assinada. É funcionária da biblioteca da universidade.

“Desde o momento da entrevista ela chamou a atenção. Ela veio sozinha, não tinha ninguém da família falando por ela, como ocorre muito nestes casos”, comenta a coordenadora da biblioteca, Ana Paula Monteiro, 43 anos.

Rápida nas respostas, nas perguntas e na abordagem aos estudantes, Andrieli é responsável por recolher livros que ficam pelas estantes, buscar aqueles que ficam em outro prédio e limpar riscos e rabiscos que estudantes pouco educados deixam nas páginas. Riscos nos livros, por sinal, tiram Andrieli do sério, principalmente depois que os livros entraram ainda mais na vida dela, nas aulas da faculdade. Foi um novo desafio em sua vida.

“Ela disse que queria fazer Veterinária. Respondi que era um curso difícil. Sabe o que ela me disse? Mãe, mas eu posso pelo menos tentar, né!”, recorda a mãe, Lisete Diehl, 50 anos.

O vestibular prestado no início do ano não foi para Veterinária, mas foi desafiador. Para ser aprovada em Educação Física precisava não zerar nenhuma prova e apresentar desempenho dentro da média em redação. Foi aprovada na primeira tentativa. Os percalços que a síndrome de Down impõem na sala de aula ela enfrenta com tranquilidade e com o apoio de uma professora particular.Questionada sobre o que, para ela, significava ter a síndrome, é simples e direta na resposta:

“É um alteração no cromossomo 21, que pode acontecer com qualquer criança. É uma coisa normal”, diz a universitária.

Ser atriz está nos planos

Andrieli faz planos a longo prazo. Além de ser massoterapeuta e conquistar clientes entre as atrizes da Globo, ela quer conhecer o Projac e ser atriz. Tocar teclado em cerimônias de casamento e outros eventos da igreja também faz parte dos seus projetos.

Na primeira vez em que tocou na igreja, acompanhada apenas pela professora Helenita Diel, 54 anos, para se acostumar com a acústica do local, foi categórica:

“Parece que estou tocando no céu” declamou Andrieli, fazendo surgir lágrimas no padre que, em silêncio, a ouvia tocar.

Para Lisete, o sonho é que tivesse mais portadores da síndrome com a mesma desenvoltura que Andrieli.

“Gostaria que ela tivesse um grupo de convivência com mais pessoas como ela, e que pudesse sair juntos, se divertir, apenas eles, sozinho, em uma pizzaria. Mais portadores deveria ter a liberdade que ela tem”, reflete a mãe, ex-bancária que, para entender melhor a filha, deixou de lado os números e fez especialização em psicomotricidade e agora cursa Psicologia.

Saiba mais sobre Andrieli e confira um vídeo sobre a vida da estudante no site do jornal Zero Hora.

Fonte: Zero Hora – Thiago Copetti