Do cumprimento de cotas para a inclusão com valor agregado

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Por Fernando Heiderich*

 

A situação da empregabilidade de TcD (Talentos com Deficiência) no Brasil chama a atenção

pela realidade atual e, ao mesmo tempo, pela oportunidade que os números mostram.

Mesmo com uma lei que obriga, e que pune quem não cumpre a cota, empregamos menos que

em países que nem lei de cotas tem, como os EUA, por exemplo. O que eles já viram que nós

ainda não?

Os números mais recentes no Brasil mostram uma radiografia de um momento ainda

preocupante e ao mesmo tempo de uma oportunidade incrível de agregação de valor.

Mesmo tendo crescido quase 6% quando o total de empregos formais caiu 3%, os dados (RAIS

2014/2015) mostram que dos 48 milhões de trabalhadores no Brasil, somente 403 mil são TcD,

ou seja, menos de 1% do total (0,84%).

Pense nisso: a cada cem pessoas com emprego formal, em média, não chegamos nem a ter uma

com algum tipo de deficiência. E esse número quase não mudou nos últimos anos, mostrando

uma estagnação que também chama a atenção.

Por isso precisamos de um novo olhar nessa questão.

Pelo valor inquestionável que os TcD agregam na área onde são incluídos (dados da McKinsey

que mostrei na coluna de Março), não queremos limitar as oportunidades a lei atual. Ela ajuda

(pela ainda baixa maturidade da comunidade & delegação dessa decisão) mas não é suficiente.

Por que? Pela simples razão de que se hoje, em média, as empresas estão atingindo somente 49%

da lei de cotas no Brasil, significa que quando todas estiverem cumprindo 100% a lei teremos

somente 1,7% dos talentos com deficiência trabalhando. Portanto, mesmo com a lei totalmente

cumprida, teremos menos de 2 em cada 100, de um grupo que é quase 25 em cada 100 no Brasil,

ou se pegarmos a média mundial, 14 em cada 100.

Fica claro que, apesar de ajudar e ser necessária em alguns países, a lei de cotas não é e nem será

suficiente. Nunca.

Em alguns estados, chegamos a 63% da cota ou 1,5% de TcD do total de trabalhadores, como é o

caso do Rio Grande do Sul. Parabéns aos gaúchos, tchê! Que sigam liderando a inclusão no

trabalho e influenciando os outros positivamente.

O negócio é olhar a inclusão de TcD pelo valor que agregam.

As pesquisas, e casos reais em inúmeras empresas, mostram que ao contratarem um talento com

deficiência, o time trabalha mais unido, com maior espirito de equipe, com mais ajuda ao outro,

faltam menos, menos conflito, procuram mais o autodesenvolvimento e as lideranças passam a

usar melhor o potencial de todos os talentos, com ou sem deficiência nas áreas onde houve a

inclusão.

Portanto, com o aumento da saúde organizacional vem o aumento da eficiência operacional.

Ao mesmo tempo, existem inúmeros casos – alguns mostraremos aqui – de empresas menores de

100 pessoas, que, portanto, estão fora da lei de cotas, que já contratam TcD e estão convencidos

dos benefícios que agregam ao negócio.

Fazendas, distribuidores de insumos, lojas agropecuárias, cooperativas, escolas agrícolas,

supermercados e restaurantes (dentre outros) são exemplos de oportunidade de inclusão no

trabalho na nossa cadeia do agronegócio, com valor agregado pelos TcD.

Agarre essa oportunidade onde todos ganham!

 

* Fernando Heiderich é médico veterinário e diretor sênior do Instituto Meta Social, onde é

membro ativo desde sua fundação, em 1993. Trabalhou mais de 30 anos na indústria de saúde

animal e renunciou de seu último cargo como vice-presidente de Marketing Global da Merck

AH no final de 2014 para se dedicar a ajudar na inclusão de pessoas com deficiência.

 

Publicada originalmente na Revista Feed&Food