Diagnóstico de deficiência não é luto, é vida!

menino sorrindo em primeiro plano, himem e mulher sorrindo atras. Texto: viva a felicidade!“Vamos enterrar o luto?  Imagine, por exemplo, anos mais tarde, o seu filho com deficiência lendo, ouvindo ou de alguma forma sabendo, de forma descontextualizada, o que você sentiu quando ele foi diagnosticado”.
 

Por Vivi Reis, com edição de Patricia Almeida

Um dia resolvi que coisas e palavras que me diziam em relação ao nascimento da minha filha poderiam ou não surtir efeito sobre o que e como seriam as nossas vidas.

Falavam sobre aberração genética, comorbidades várias, sobrevida, limitações, dificuldades… mas o que machucava mesmo era quando se referiam ao seu nascimento como “Momento do Luto”.

Era tão enraizada essa ideia, que eu reproduzia, mesmo sem tê-lo sentido. Sim, me induziram a um luto de um filho vivo!

Num consultório psicológico, muitos terapeutas utilizam o termo luto para explicar uma perda, mesmo que esta não seja necessariamente a morte de alguém. Fala-se assim para o momento de um divórcio, da demissão de um trabalho, e também sobre o momento do diagnóstico de um filho com deficiência. Acontece que este termo saiu do “psicologuês” e foi parar na boca do povo, assim, sem nenhuma análise adequada.

E aqui entra a reflexão de que podemos, sim, substituir palavras duras por palavras suaves, que definam da mesma forma um momento novo, às vezes difícil, claro, e sem tirar nem colocar sentimento no coração de ninguém. E falamos de semântica, isto é, o uso da palavra em si, que, de forma indevida, pode provocar sentimentos e sensações nem um pouco benéficas para ninguém envolvido direta ou indiretamente neste contexto (nascimento ou diagnóstico de uma criança com deficiência). Imagine, por exemplo, anos mais tarde, o seu filho com deficiência lendo, ouvindo ou de alguma forma sabendo, de forma descontextualizada, o que você sentiu quando ele foi diagnosticado.

Alguns acham que isso é falta de empatia com as mães que sofrem ao receber um diagnóstico de deficiência.

Mas falta de empatia é quando nos imputam sentimentos que não nos pertencem, é quando resolvemos psicologar a vida alheia, dando significados que vão exatamente contra a alegria do nascimento de uma criança.

Sabe o que é falta de empatia? É você dizer: É, mas veja bem, ninguém quer ter filho com deficiência, então não venha pintar um mundo de cor de rosa que não existe!

Mas saiba que esse mundo existe sim!!! Existem muitas famílias que escolhem SIM ter um filho com síndrome de Down, autismo, paralisia cerebral, e sabe por que? Porque escolheram ter um filho, não importa de que jeito, e adotaram por amor, sem dar mais importância ao “padrão” e sem se curvar ao capacitismo*. Da mesma maneira, muitas famílias, mesmo diante do diagnóstico de deficiência intra-uterino escolhem ter o filho.

Então, concluindo: luto é filho que morreu! Luto é dor profunda de saber que nunca mais você irá pegar aquela criança nos braços, luto é dilacerante.

Vamos buscar novas palavras para definir a hora da notícia do diagnóstico?

Que tal: Inesperado, susto, choque, momento difícil, conflito, … você tem outras pra sugerir?

E vamos ter empatia pelos pais e mães que perderam seus filhos, pois, quando falamos próximo a eles do “Luto do filho esperado”, enquanto seu filho está correndo e jogando bola, é no mínimo, mas bem no mínimo, muita insensibilidade!

*capacitismo: supor que uma pessoa com deficiência seja inferior a uma pessoa sem deficiência.