O Processamento Sensorial em crianças com síndrome de Down – Parte 2

Garota com síndrome de Down pratica educação física.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Por Maryanne Bruni – Terapeuta ocupacional – West Toronto Keys to Inclusion, Canada

Tradução para o português: Deisy Aguiar

Parte II

  1. Estratégias para enfrentar as dificuldades do processamento sensorial

A seguinte tabela oferece uma visão esquemática das dificuldades no processamento sensorial que às vezes são apresentadas pelas crianças com síndrome de Down e das estratégias que ajudam a enfrentá-las.

Exemplos de dificuldade no processamento sensorial  Exemplos de estratégias para enfrentá-las
Resposta exagerada ao toque leve   
 

 

 

 

1. A criança mostra hipersensibilidade ao toque leve. Pode se afastar para não estar perto dos demais, ou pode se golpear ao sentir-se ameaçada.

1. Aproxime-se da criança de frente para que ela a veja e possa antecipar sua aproximação e contato.- Confira como está arranjada na fila da escola, no vestiário e a disposição das cadeiras em classe. A criança pode se sentir menos ansiosa por algum contato inesperado se está na primeira fila (talvez segurando a porta, que oferece pressão em seus braços), ou na última fila, onde pode ver a todos os demais;- Pode ter menos dificuldade se seu cabide para pendurar os pertences se encontra mais acessível, ou se pode ir buscar suas coisas um minuto antes que os demais;- Pode sentir-se mais confortável se ninguém se senta atrás dela; 

– O toque com pressão profunda também anula a sensação de toque leve. Roupas apertadas, massagem, compressões das articulações, deirtar-se embaixo de um cobertor pesado e usar roupa pesada são exemplos de toque com pressão profunda. Usar uma roupa assim na escola pode ajudar a criança a se organizar.

 

2. Com relação à roupa, a criança apresenta um comportamento extremamente particular; algumas não toleram meias de cano alto ou meia-calça. 2. A estimulação mediante pressão constante por tecidos apertados como lycra ajuda algumas crianças que têm hipersensibilidade ao contato com a roupa (p. ex., calça de lycra típica para corrida ou ciclismo e uma blusa de lycra por debaixo da roupa). Alguns materiais resultam mais confortáveis para a pele (por ex., algodão suave, lã). Também podem ser usadas as sugestões anteriores nos casos de sensibilidade tátil.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3. A criança evita, resiste ou luta contra as rotinas de higiene, como escovar os dentes, lavar o cabelo ou o rosto, cortar as unhas.

 

 

3. Anime a criança a fazer o máximo possível da higiene sozinha, ainda que o resultado não seja perfeito. O estímulo sensorial é muito mais tolerável quando ela mesma faz as atividades, já que sabe prever o local e a intensidade.- Se isso não é possível em hipótese alguma, faça as rotinas de higiene de uma maneira constante, no mesmo lugar e na mesma hora todos os dias e a inclua em seu calendário visual (quadro com imagens das tarefas do dia), se o está utilizando.- Reduza o impacto do toque leve com a pressão profunda. Por ex.·         A criança abraça um grande brinquedo enquanto se penteia (com ou sem auxílio);·         A criança é enrolada em uma manta confortável enquanto lava o rosto ou se a penteia (com ou sem auxílio);·         A criança aperta uma bola ou puxa uma faixa grossa durante a higiene (com ou sem auxílio);

·         Colocar na criança pesos de musculação atados a seu pulso e tornozelo (com ou sem auxílio).

 

– Corte as unhas enquanto a criança esteja em um banho quente. A água quente amolece as unhas e reduz o impacto do toque leve.

 

– Se for difícil cortar o cabelo, tente algumas dessas alternativas:

·         Mantenha a criança em seu colo;

·         Mantenha a criança sentada em uma cadeira baixa de modo que seus pés fiquem firmes no chão;

·         Penteie e desembarace seu cabelo antes de começar;

·         Lave o cabelo em casa um pouco antes de ir ao cabeleireiro;

·         Utilize-se dos exercícios de pressão profunda descritos anteriormente;

·         Antecipe os acontecimentos das etapas seguintes para a criança, através de um calendário visual, explicando quando termina cada uma;

·         Conte uma história social (crie uma historinha com fotos ou veja um vídeo de alguém cortando o cabelo) para reforçar a experiência em linguagem positiva;

·         Dê a ela uma distração visual (como um vídeo ou revista)  durante o corte do cabelo.

4. A criança não quer manter objetos em sua mão, segura muito de leve com a ponta dos dedos, apesar de conseguir segurar bem de seus objetos preferidos. 4. Introduza brinquedos/objetos novos em situações nas quais a criança se sinta segura e tranquila (por ex., quando está envolvida em um cobertor preferido, quando está na banheira, etc.).- Faça massagem em suas mãos pressionando em profundidade para reduzir sua hipersensibilidade;- Ofereça brinquedos que tenham vibração;- Anime a criança a carregar e empurrar objetos pesados com suas próprias mãos.

 

Resposta exagerada aos alimentos   
 

 

 

 

1. A criança é extremamente detalhista com a comida, só tolera algumas texturas e tipos de comida.

 

 

1. Lembre-se de que muitas crianças pequenas têm preferências limitadas para os alimentos durante vários anos; ser seletivo com a comida não significa sempre que haja um problema de sensibilidade. Se a hipersensibilidade está limitando gravemente a nutrição da criança, experimente:- Retire o centro da atenção na comida; Procure fazer das refeições um momento social  importante ;- Inicie a criança na preparação das comidas (tocar os alimentos, abrir pacotes ou potes, etc.);- Deixe que ela toque e cheire uma nova comida, sem esperar que ela prove inicialmente; 

– Comece com aquilo que a criança tolera melhor e gradualmente ajuste a textura/sabor e apresentação;

 

– Fazer exercícios de motricidade orais fora das horas das comidas (soprar balões e apitos diante de um espelho, fazer bolhas com um canudinho, brincar com jogos com partes do corpo, como “Cabeça, ombro, joelho e pé”).

 

Resposta exagerada geral   
 

 

 

 

 

 

 

1. Parece que a criança se sente facilmente hiperestimulado pelo ambiente. São muitos os tipos de estimulação sensorial que precisa processar e isso a desorganiza de maneira que parece se sentir incapaz de enfrentá-los, tanto comportamental como emocionalmente.

1. Mude o ambiente reduzindo a estimulação:- Limpe o quarto cheio de brinquedos;- Retire os brinquedos /atividades que já não estejam sendo usados;- Suavize os ruídos colocando bolas de tênis ou pedaços de feltro nas pernas das cadeiras, coloque tapetes no chão, pendure cortinas nas paredes para absorver o som, etc.;- Faça com que a criança use fones de ouvido que reduzam o barulho nos ambientes barulhentos;

 

Utilize atividades tranquilizadoras e de organização:

 

– Um quarto tranquilo sem muita iluminação;

– Música suave e sossegada;

– Cadeira de balanço, balanço, rede;

Água quente (para o banho, para brincar na água);

– Abraços, aconchegar-se em travesseiros, almofadas, animais de pelúcia;

– Atividades de mastigação (chiclete, comida que faça esforço para mastigar);

– Organize um “espaço tranquilo” como um canto cheio de almofadas ou uma pequena barraca para onde a criança possa ir para reorganizar-se quando se sente dominada pelo estresse.

 

2. Dificuldades com as rotinas de sono; pode ter problemas para adormecer e manter-se dormindo, cobertores a incomodam. 2. Estabeleça uma rotina na hora de dormir que inclua técnicas como:- Uma atividade tranquila até que seja a hora de dormir: carinho, cafuné, massagens com pressão profunda;- Um banho;- Leia um livro com tema adequado para o sono na cama ou na cadeira de balanço;- Reduza a intensidade das luzes;- Cante uma canção;- Um pijama quente e que cubra os pés para que não precise de cobertor.

 

Respostas reduzidas   
 

 

 

1. A criança necessita mais estímulos sensoriais para que responda. Pode se mostrar como letárgica e lenta em suas respostas. Pode necessitar mais movimento e estímulo sensorial antes de concentrar-se e realizar uma tarefa, com o fim de ativar seu sistema nervoso até alcançar o ponto em que responda.

 

1. Antes de começar uma tarefa cognitiva ou motora, experiemente:- Exercícios de motricidade orais: fazer bolas de sabão ou soprar com um canudinho, comer uma casquinha de sorvete, chupar algo ácido, comer algo crocante (palitos de cenoura, maçã);- Atividades de movimentos rápidos: andar rápido, correr, saltar, balançar;- Cantar com vivacidade, escutar e bater palmas no ritmo de uma música animada, dançar; 

– Sentir os brinquedos e materiais de diversas texturas. Não dar a ela nada que possa morder se ainda está na fase de levar os brinquedos à boca;

 

– Água fria no rosto e nas mãos.

 

Busca de sensações   
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1. A criança busca pressões profundas desejando abraços frequentes, chocando com os moveis, engatinhando em espaços estreitos, etc. A pressão profunda pode compensar os efeitos de hipersensibilidades do sistema nervoso ao toque leve. Muitas crianças com síndrome de Down buscam abraços frequentes, isso nem sempre reflete uma necessidade sensorial pois pode se tratar de um comportamento aprendido.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2. A criança procura um movimento excessivo, como balanços ou dar voltas na roupa. Pode ter dificuldades para permanecer quito sentado porque seu corpo pede movimento.

 

1 e 2. As crianças necessitam dispor de tempos regulares para jogos com movimentos e sensações que estejam estruturadas e previstos numa parte do dia.- Programe sempre tempos para que a criança realize atividades sensoriais, procurando satisfazer a necessidade sensorial que ela deseja.- As atividades repetidas que proporcionam muito estímulo proprioceptivo são as mais adequadas para tranquilizá-la e organizá-la. Ver exemplos em “Respostas exageradas ao toque leve”- Outras atividades de coordenação motora grossa que podem ser provadas: 

·         Fazer movimentos de empurrar e subir (usando as mãos ou os joelhos);

·         Brincadeira de carrinho de mão (segurando nos joelhos);

·         Embalá-la repetidamente numa colcha resistente (com duas pessoas fortes segurando) ou em uma rede;

·         Braço de ferro;

·         Levar objetos pesados, como um pacote de livros;

·         Saltar

 

(Tenha cuidado ao colocar muita tensão nas articulações quando a criança não tem articulações fixas ou se as articulações são mais flexíveis do que o normal. Nesse caso não faça essas atividades).

 

– Atividades em casa que proporcionam estímulos proprioceptivos:

·         Tirar a roupa da lavadora e pendurar no varal ou colocar na secadora;

·         Levar uma cesta cheia de roupa ou o lixo para reciclar;

·         Empurrar o carrinho no supermercado;

·         Passar aspirador de pó, varrer, cavar;

·         Levar uma bandeja com objetos pesados.

 

– Proporcione jogos sensoriais e atividades de discriminação sensorial para suas mãos (como colocar a mão nun saco e descobrir, através do tato, que objetos se encontram lá entro).

 

– Ofereça atividades motoras orais durante o dia (soprar apitos, mastigar chiclete).

 

– Dê oportunidade para a criança mover-se durante o tempo da pré-escola ou escola, pode ser sentando ou colocando os pés em uma tábua de equilíbrio ou numa almofada inflável.

 

– Deixe a criança brincar com um brinquedo ou objeto que possa ser dobrado, dar voltas e mudar posições, ou com uma borracha elástica que se possa esticar nos momentos em que tem que escutar e prestar atenção.

 

3. A criança põe tudo na boca, mastiga objetos em excesso, a blusa, por ex. pode chupar coisas 3. Ofereça-lhe um brinquedo que possa mastigar (pode ser algo que fique na boca, como uma chupeta, ou um mordedor ou tubo de borracha – desses de hospital –  preso de alguma forma para não cair). Dê a ela outros brinquedos de diversas texturas que possa mastigar;- Dê alimentos que não sejam tão macios, que tenham sabor e textura;- Ofereça a líquidos espessos, de preferência para tomar com canudinho;- Massageie o rosto, as bochechas, os lábios com pressão profunda; 

– Ofereça chiclete;

 

Visite o dentista com regularidade por motivos de higiene e para garantir que o comportamento não ocasione problemas dentários.

Dificuldades na planejamento motor   
1. A criança tem dificuldade para aprender qualquer habilidade motora nova, necessitando treinar mais do que se espera de uma criança com síndrome de Down. Ela não consegue transferir uma atividade que já sabe para uma situação nova. Essas crianças parecem muito desorganizadas em sua maneira de realizar atividades motoras; não parecem saber como iniciar uma tarefa ou se concentrar para realizá-la.Observe que as habilidades cognitivas influenciam claramente na capacidade da criança para aprender rapidamente as atividades motoras. Não está claro ainda até que ponto é importante o componente do processamento sensorial na aprendizagem motora das crianças com síndrome de Down. No entanto, muitas dessas crianças parecem depender mais dos fatores ambientais para alcançar o desenvolvimento previsto. 1. Brincadeiras que incorporam muitas experiências táteis podem beneficiar as crianças desorganizadas. Atividades dirigidas a tomar consciência do corpo (por ex. deslocar-se entre obstáculos)  ajudarão a reconhecer melhor a posição do corpo e o movimento.Faça com que a criança verbalize o que necessita fazer para terminar uma tarefa . Ofereça apoio (somente o necessário, sem ajudar demais). Por ex., ao dizer “1,2,3 já”  ajude a prestar atenção no movimento de jogar uma bola no alvo. Ajude-a  a desenvolver estratégias verbais e pistas ou avisos para terminar a tarefa. As crianças pequenas frequentemente utilizam esses avisos verbais quando estão aprendendo a pintar.Estruture o ambiente de modo que as novas habilidades aprendidas sejam introduzidas nas rotinas e se repitam em um contexto familiar.

 

Perfil: Diana

 

Diana é uma menina de 11 anos que resiste a fazer as rotinas de higiene diárias. Ela não gosta de lavar o rosto, quel precisa ser limpo várias vezes ao dia porque ela se suja muito comendo. Ao refletir, sua mãe se deu conta de que a maneira de lavar o rosto era inconstante e imprevisível. Geralmente, justo antes de sair e na pressa por sair, a mãe notava que o rosto de Diana estava sujo de comida e corria para molhar um pano e limpar o rosto dela. Diana sempre afastava a cabeça e empurrava a mãe para longe dela.

 

Sua mãe decidiu experimentar outro método. Colocou duas imagens em um cartão na mesa dem que fazem as refeições, ao lado de Diana: comer a comida, limpar o rosto. Ao término de cada refeição, antes de levantar-se da mesa, Diana pegaria uma toalha de rosto e o limparia. A mãe também disponibilizou um espelho de mão para que a menina se visse. Diana respondeu bem a essa nova rotina, que ofereceu uma atividade previsível para cada refeição. Ela se sentiu mais feliz ao ser capaz de fazer sozinha essa tarefa e evitar a rápida e desagradável limpeza de sua mãe nessa fase de transição.

 

5.1. Plano/Proposta/Recomendação sensorial

 

Uma vez identificadas as dificuldades no processamento sensorial de uma criança e quando ficarem comprovadas as estratégias sensoriais específicas que podem ajudá-la, recomenda-se um plano ou proposta sensorial. Um plano sensorial significa proporcionar o tipo de frequência e intensidade dos estímulos sensoriais que a criança necessita para manter um sistema nervoso tranquilo, alerta e organizado. Algumas das atividades acima descritas podem formar parte desse plano sensorial. Um plano sensorial deve ser desenvolvido de maneira individual para cada criança, para anteder às suas necessidades sensoriais específicas. Não é uma “receita”, nem é simplesmente acrescentar mais estimulação.

Um programa ou plano sensorial normalmente é desenhado por um terapeuta ocupacional ou fisioterapeuta após fazer uma observação e avaliação completa das necessidades sensoriais da criança. O programa inclui os seguintes elementos:

  • Incorporação de atividades sensoriais diretamente nas rotinas diárias;
  • Realização de atividades sensoriais específicas (como o protocolo Wilbargar descrito mais adiante);
  • Adaptação do ambiente de modo que inclua oportunidades para a estimulação sensorial necessária;
  • Adaptação do modo de chegar até a criança, respeitando suas necessidades sensoriais.

Terapeutas formados em integração sensorial/processamento sensorial, geralmente terapeutas ocupacionais, são responsáveir por estabelecer um programa sensorial.

Às vezes se incorpora a “Técnica Wilbargar de Pressão Profunda e Proprioceptiva” ao programa sensorial. Esse método tem o obejtivo de reduzir a eficácia da ”resposta exagerada” (ou “defesa sensorial”) nas crianças e adultos. Consiste em exercer pressões profundas sobre a pele dos braços, costas e pernas com intervalos regulares ao longo do dia, utilizando escova especial de pressão, seguida de compressões nas articulações. A compressão articular consiste em aplicar pressão sobre a articulação através dos ossos. O protocolo foi aplicado por Patricia Wibargar, uma terapeuta ocupacional e se baseia na teoria de integração sensorial.

Ainda que tenham aparecido muitos estudos que comprovam melhorias nas crianças com transtorno do processamento sensorial graças à técnica de Wibargar, não há estudos  específicos com crianças com síndrome de Down que respondem em excesso ao estímulo sensorial.  Certifique-se de consultar um terapeuta ocupacional ou fisioterapeuta formado nessa técnica antes de iniciar um protocolo com seu filho. Existem procedimentos específicos que devem ser seguidos ao aplicar o protocolo.

Perfil: Andy

Andy, de 14 anos, faz uma viagem longa de ônibus entre a casa e a escola. Tem que madrugar para pegar o ônibus e geralmente tem dificuldade para acordar e sua mãe tem que insistir para que ele siga a rotina de cada manhã. Ao término da viagem de ônibus, ele está dormindo ou muito sonolento.  Andy não consegue sair do ônibus, ir à sala de aula e concentrar-se imediatamente nas tarefas escolares, ele demora muito tempo para “entrar” na escola. Em lugar de deixar que Andy sente-se imediatamente em sua carteira, sua professora elaborou uma série de atividades que ele deve realizar logo ao chegar. Em primeiro lugar Andy retira da mesa de seus professores um montão de cadernos de trabalho de seus companheiros e os distribui. Depois leva a lista de presença (colocada em uma pasta pesada) à secretaria. A professora deixa o quadro sujo do dia anterior para que ele apague e o limpe pela manhã. Todas essas atividades que exigem que Andy se mova o ajudam a sentir-se mais desperto, fazendo com que ele possa se concentrar em seu trabalho escolar. Além disso, ele tem uma garrafa de água gelada na mesa enquanto trabalha.  As bebidas frias o ajuda a se manter desperto e alerta (além de bem hidratado).

 

5.2. Estratégias sensoriais: adaptar-se ao entorno

Sabe-se que a adaptação ao entorno proporciona magníficas oportunidades para provar e praticar as habilidades motoras finas. O mesmo principio é válido para o processamento sensorial: adaptamos o entorno para acomodar as necessidades sensoriais da criança e para proporcionar os tipos de estimulação sensorial que a ajude a estar mais organizada. Se ela deseja e procura a pressão profunda em suas mandíbulas e pega constantemente coisas para morder, podemos colocar uma caixa pequena com alguns brinquedos de motricidade oral em cada cômodo para que ela os tenha facilmente disponíveis: uma escova infantil de dentes, um brinquedo com texturas mastigáveis, borracha (grande o suficiente para que não se engasgue), um apito ou um brinquedo inflável. (ATENÇÃO DESCARTE PARTES PEQUENAS QUE PODEM SE SOLTAR AO SEREM LEVADAS À BOCA E ENGOLIDAS PELA CRIANÇA!) Se é mais sensível a certos sons, como por ex. o telefone, pode-se utilizar um telefone cujo volume possa ser ajustado. Muitas das ideias expostas na tabela de estratégia sensoriais são exemplos de adaptação do entorno.

Nossos filhos atuam melhor em ambientes onde há coerência, estrutura e quando se comunica a eles,  com claridade, o que vai acontecer e o que se espera deles. Isso é vale para todas as crianças, mas é fundamental para os que têm alguma deficiência intelectual e de desenvolvimento. Uma vez que as crianças com síndrome de Down têm sistemas nervosos menos flexíveis e mostram atraso na aprendizagem para resolver problemas e ajudar suas reações, muitos parecem responder com mais intensidade a mudanças pequenas ao seu redor. Como veremos depois, podem ter dificuldade em situações de transição e de mudanças inesperadas em sua rotina.

As crianças com síndrome de Down ao crescerem, entrarem na adolescência e passarem à fase adulta, desenvolvem geralmente padrões de comportamentos em que se apoiam para fazer que suas vidas sejam previsíveis e administráveis. Por ex., quando minha filha Sarah estrou no ensino médio, pegava um ônibus diariamente para voltar a casa, comia um lanche e descansava. Quando qualquer atividade, por ex., um compromisso, mudava essa rotina, eu devia avisá-la pelo menos um dia antes, e ainda assim havia vezes em que sentia dificuldade para adaptar-se a mudança. Inclusive agora que já é adulta, as mudanças inesperadas na sua rotina, ou fazer planos novos e diferentes raramente dão certo.

McGuire e Chicoine denominam essa necessidade de repetição e de fazer sempre o mesmo “The groove” (uma rotina monótona, como um disco arranhado). Ter essas rotinas parece ajudá-los a manter certo controle sobre suas vidas e pode aliviar o estresse que produzido pelo mundo frenético à sua volta. Podemos enfrentar problemas por causa dessas rotinas quando a pessoa se mantém inflexível e irredutível em seus afezeres e é incapaz de se acomodar a imprevistos. A seção seguinte oferece algumas estratégias que ajudarão nas transições, de maneira que se respeite sua necessidade de manter a rotina.

Nota: O presente artigo reproduz em português a segunda parte do capitulo 11 “Sensory Processing” do livro de Maryabbbe Bruni intitulado Fine Motor Skills for Children with Down Syndrome. A Guide for Parents and Professinals, 3 edição.  Woodbine House, Bethesda MD, 2016

Confira a Parte 1: http://www.movimentodown.org.br/2016/12/o-processamento-sensorial-nas-criancas-com-sindrome-de-down-parte-1/

Fonte: Down 21 – http://www.down21.org/revista-virtual/revista-virtual-2016/1725-revista-virtual-diciembre-2016-numero-187/3005-articulo-profesional-diciembre-2016.html