Natação e síndrome de Down: veja como estes atletas têm se destacado nas piscinas

Crédito da foto: Daniele Traverso
O nadador Caíque Aimoré, que nasceu com síndrome de Down
Crédito da foto: Daniele Traverso

Campeonatos oficiais e competições amadoras têm mostrado que as pessoas com síndrome de Down podem obter muito sucesso na natação. A prática deste esporte desde a infância traz benefícios como o fortalecimento muscular e a coordenação motora. Com o apoio da família e de profissionais especializados, é possível obter uma melhor qualidade de vida e se profissionalizar.

As pessoas com síndrome de Down nascem com algumas características específicas, como a hipotonia (baixa tonicidade muscular). A natação é uma ótima atividade de recreação que desenvolve a coordenação, o trabalho muscular e possibilita amplitude de movimentação das articulações de todo o corpo. Além disso, nadar também fortalece a musculatura cardíaca e o sistema locomotor. A respiração exigida durante a prática do esporte auxilia também no combate às doenças do sistema respiratório, do coração e do sistema circulatório.

A natação é um dos esportes que com mais benefícios para a área do desenvolvimento corporal e pode ser praticada desde os primeiros meses de vida. “Nessa primeira fase da vida, fazemos um trabalho de adaptação ao meio aquático. A criança aprende a boiar, mergulhar, pegar coisas no fundo da psicina. Depois, aos poucos vai aprendendo a técnica do esporte. As crianças com síndrome de Down já são capazes de nadar toda a piscina por torno dos oito anos”, esclarece Roberto Di Cunto, professor de educação física e técnico de natação para pessoas com síndrome de Down da Associação Paradesportiva JR de São Paulo.  Roberto salienta que as pessoas que nasceram com a síndrome precisam passar por avaliação médica para detectar se existe instabilidade atlanto-axial antes de iniciar o esporte.

A atividade também é indicada por causa do trabalho com a psicomotricidade. Como seres humanos, nos desenvolvemos no meio terrestre, por isso, nosso corpo sofre adaptações quando é exposto ao meio aquático. Estimular este processo de reorganização corporal é especialmente importante para a integração sensorial das pessoas que nasceram com a síndrome.

O cérebro humano recebe informação sensorial 24h por dia. Quando estas informações fluem de forma organizada e integrada, acontecem as percepções, os comportamentos e a aprendizagem. A integração sensorial é a organização desse fluxo de informações, o desenvolvimento da capacidade de sentir, compreender e organizar as sensações do corpo ou do ambiente.

Qualidade de vida e interação social

Os atletas do projeto ‘Natação Sem Barreias’ em Niterói
Crédito da foto: Everton Lima

Para um grupo de jovens com síndrome de Down que pratica natação no Ginásio do Caio Martins, em Niterói (RJ), além do desenvolvimento físico, o esporte trouxe uma atividade prazerosa e amigos. A prática do esporte também ajuda no convívio social das pessoas com deficiência. “Aqui, montamos as bases para a evolução deles. E isso vai além de marcas em competições e traduz o respeito pela individualidade de cada um”, contou a professora Idalina Machado, criadora do projeto Natação sem Barreiras.

O projeto, que conta com o apoio do Governo do Estado do Rio, já deu frutos. Os atletas conquistaram uma marca expressiva no último campeonato internacional de natação, realizado na Dinamarca com a chancela do Comitê Paralímpico Internacional. Pedro Fernandes Domingues, de 21 anos, quebrou os recordes da categoria para a síndrome de Down nos 200 metros nos estilos livre e medley. Outra atleta que tem se destacado é Fernanda Honorato, que também participa da equipe e nada nos estilos borboleta e crawl.

“Quando entro na água, é adrenalina pura. É muito bom participar desse grupo. Aqui, somos uma família”, comemora Fernanda, que também nasceu com síndrome de Down.

De olho nas Paralimpíadas

No Brasil e em todo o mundo, a principal meta dos atletas com síndrome de Down é participar das Paralimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro.

A natação é um dos esportes com maior número de participantes e está presente desde a primeira edição dos Jogos Paralímpicos, em 1960, em Roma. No princípio, apenas as pessoas com lesões na medula podiam competir. O cenário começou a mudar na edição de 1972, em Heidelberg, na Alemanha, com a inclusão de deficientes visuais. Hoje participam atletas com deficiência física e intelectual, inclusive a síndrome de Down.

O Brasil tem atletas de destaque nas competições internacionais. Na última edição do Campeonato Mundial de Natação DSISO, realizada em 2012 na Itália, a seleção brasileira, composta por 24 paraatletas, trouxe para casa 16 medalhas, sendo 14 de ouro e duas de prata. O nadador Caíque Aimoré, de 20 anos, conquistou sozinho metade das medalhas brasileiras de ouro.

Crédito da foto: Pedro Reis
Caíque Aimoré durante o Campeonato Mundial na Itália.
Crédito da foto: Pedro Reis

 

Esta reportagem faz parte de uma série do Movimento Down sobre os benefícios da prática esportiva para pessoas com síndrome de Down. Nas última semanas, publicamos uma matéria sobre as vantagens do surfe , das artes maciais e da ginástica olímpica.