Um perfil de aprendizagem específico

Crianças com síndrome de Down não estão simplesmente atrasadas no seu desenvolvimento ou meramente com a necessidade de programas facilitados. Elas têm um perfil de aprendizagem específico com características fortes e fracas.

Estar ciente dos fatores que facilitam e dos que inibem a aprendizagem permitirá à equipe planejar e implementar atividades significativas e relevantes. Isto não significa que todas as crianças com síndrome de Down terão as mesmas dificuldades ou facilidades em relação a aprendizagem.

Cada criança é única e, para além da deficiência, guarda características próprias. Decorre daí que o perfil e o estilo de aprendizagem típico da criança com síndrome de Down, associados às suas necessidades individuais e variações dentro do perfil, precisam ser considerados. As características a seguir são típicas de muitas pessoas com síndrome de Down. Algumas têm implicações físicas, outras cognitivas. Muitas podem ter as duas.

Fatores que facilitam a aprendizagem

Forte consciência visual e habilidades de aprendizagem visual, incluindo as capacidades de:
• Aprender e usar sinais, gestos e apoio visual;
• Copiar o comportamento e as atitudes de colegas e adultos;
• Aprender com atividades práticas.

Fatores que inibem a aprendizagem

Cada um dos fatores inibidores requerem o uso de estratégias que os minimizem ou neutralizem, garantindo as condições para a aprendizagem do aluno. Muitas dessas estratégias têm sido descritas em diferentes contextos como facilitadoras da aprendizagem também de crianças sem deficiência. São elas:

A. Deficiência visual

Apesar de crianças com síndrome de Down geralmente serem ótimas aprendizes visuais, muitas têm algum tipo de deficiência visual. Embora aproximadamente 70% precisem usar óculos antes de sete anos, os problemas visuais frequentemente passam despercebidos, visto que qualquer dificuldade na aprendizagem ou no comportamento geralmente é tida como consequência da deficiência.

É importante, portanto, garantir a realização de exames de vista periódicos e que cada possível problema visual específico seja levado em conta. As Diretrizes de Atenção a pessoas com síndrome de Down do Ministério da Saúde indicam a necessidade de avaliação de acuidade visual anual.
Além disso, crianças com síndrome de Down podem apresentar baixa visão. Trata-se de uma perda severa de visão que não pode ser corrigida com tratamento clínico ou cirúrgico, nem com óculos convencionais, causando incapacidade funcional. Diversas funções visuais podem ser comprometidas, tais como: acuidade visual, campo visual, adaptação à luz e ao escuro e percepção de cores e contrastes. Tudo isso vai depender da patologia apresentada, que pode ter origem em causas congênitas ou adquiridas.

Na escola, alguns sinais podem ser identificados como comportamentos indicadores de baixa visão, tais como:

• olhos lacrimejantes
• tremor da pupila
• franzir de testa
• piscar com grande frequência
• O andar hesitante
• o tropeçar constante
• dificuldade para encontrar o sentido e direção de objetos, não conseguindo desviar-se deles
• a aproximação dos objetos ao rosto
• algum incômodo ou intolerância à claridade ou a sensibilidade excessiva a ela também são fatores indicativos de algum prejuízo na função visual

Por apresentar uma diminuição da percepção visual, muitas crianças com baixa visão perdem o controle do que está acontecendo e, por isso, ficam sem entender o que se passa e não conseguem se prender aos detalhes. Por isso, o professor deve incentivá-las a parar para ver, analisar as partes, observar os detalhes relevantes e entender os acontecimentos, pois quanto mais ela “aprender” olhar, mais aprenderá a ver.

O professor também deve ficar atento aos maneirismos, que são manifestados por movimentos repetitivos de movimentar ou girar a cabeça, esfregar os olhos, balançar o corpo para frente e para trás seguidas vezes, mexer as mãos e os dedos diante dos olhos. Esses movimentos precisam ser substituídos por atividades interessantes que agreguem o uso da visão residual e a exploração de objetos através dos sentidos remanescentes, principalmente pelo tato. Isso significa conhecer o ambiente pelos olhos, mãos e corpo, desenvolvendo habilidades perceptivas, sensoriais e motoras.

Antes de apresentar as atividades ou mostrar algum objeto, descreva-os, explicando o funcionamento, contando sobre as rotinas e conversando bastante sobre as descobertas a serem feitas. Nesse sentido, outra dica tem relação com a organização do espaço. Para que a criança com baixa visão possa encontrar com facilidade os objetos e consiga se locomover com segurança e independência, evite as constantes trocas de mobiliários e mantenha sempre os pertences pessoais localizados num mesmo lugar que esteja de fácil alcance.

Estratégias:

Para as crianças com síndrome de Down, de uma forma geral, sugerimos:
-Encoraje os pais a realizarem os exames anuais de acuidade visual nos seus filhos e providenciem óculos adequados quando necessário.

– Coloque o aluno perto das primeiras fileiras na sala de aula.

– Ofereça figuras e texto impresso maiores.

– Garanta que todos os materiais na escola tenham alto contraste e visibilidade. Você pode perceber que a criança responde melhor quando visualiza texto escrito a tinta preta de caneta do que a texto em lápis ou papel amarelo e não branco.

– Use apresentações simples e claras, com poucos detalhes.

– Quando pedir para a criança escrever, destaque as linhas na página para melhorar a capacidade da criança em focá-las.

No caso da criança apresentar baixa visão, para melhorar o seu desempenho escolar recomendamos o seguinte:

– Uso de lápis 6B ou 3B (por serem bem escuros) ou ainda caneta hidrográfica para a escrita
-Desenhos contornados e bem destacados.

– As linhas do caderno devem ter distância ampliada e reforçadas. Num caderno comum, pode-se reforçar uma linha sim e outra não, já que as linhas claras não são percebidas com facilidade.

– A criança deve ocupar um lugar na primeira fila de carteiras, posicionada de modo que possa movimentar-se para chegar próximo ao quadro ou mudar de lugar conforme a incidência da iluminação e do que for mais confortável para enxergar.

– Estimular o aluno a olhar para aspectos como cores e formas. Ele deve ser encorajado a tocar nos objetos enquanto olha, coordenando movimentos entre olho e mão.

– Uso de materiais e papel fosco para não refletir a claridade. Também orientar o uso de contraste claro e escuro entre objetos e seu fundo, com cores vibrantes e em destaque, como por exemplo, fundo azul e letras amarelas, fundo preto com letras brancas, azul, laranja, roxo.

– Utilizar lupas manuais ou de apoio, telescópios com aumento variável, luminárias com braços flexíveis que propicie maior conforto e eficiência na leitura. quando houver a prescrição de óculos, o professor deve observar e incentivar o uso dos mesmos.

– Permitir que a criança aproxime o objeto do rosto ou aproximar-se para ver algo no quadro ou na tevê. A proximidade do objeto com relação ao olho faz com que a imagem percebida seja aumentada e, conseqüentemente, melhor identificada.

– Nos materiais escritos, deve haver o predomínio de letras maiúsculas em bastão ou uma uniformidade na fonte utilizada. É recomendada a fonte Arial com tamanho que poderá variar de 20 a 28, ou seja, ampliada de acordo com as necessidades da criança. Para isso o professor fará uma investigação sobre qual será o melhor tamanho. Usar entrelinha duplo e espaços, assim como estar atento quanto a cor, ao brilho do papel e ao contraste.

– Usar régua ou guia de leitura. A guia de leitura pode ser confeccionada com cartolina preta com uma abertura ao centro. Na medida em que o aluno vai lendo, a guia vai sendo deslocada para a linha de baixo, evitando que se perca durante a leitura.

– Possuir uma estante de leitura para apoiar os livros de modo que fiquem mais próximos da criança e ela não precise inclinar muito o corpo para aproximar o rosto durante a leitura. Geralmente essas estantes são feitas de madeira e possuem 3 inclinações com apoio para folhas e livros.

– Uso de jogos, de figuras grandes de revistas, rótulos e embalagens também são recursos que podem ser explorados de acordo com a funcionalidade visual.

– Controlar a luminosidade do ambiente conforme a necessidade do aluno, seja pela incidência de brilho nos objetos ou pela projeção de sombra no caderno. Em alguns casos é necessário uma maior claridade, enquanto que para outros, a presença de luz causa desconforto. No segundo caso o uso de bonés ou viseiras com abas poderá diminuir o desconforto.

B. Deficiência auditiva

Muitas crianças pequenas com síndrome de Down experimentam alguma perda auditiva, especialmente nos primeiros anos. Até 75% delas podem ter uma perda auditiva e 50 a 70% desenvolvem otite de repetição devido ao acúmulo de fluído no ouvido médio causada por infecções frequentes no trato respiratório superior. Isso geralmente ocorre como resultado de um seno ou canais auditivos menores do que o normal. É particularmente importante checar a audição da criança, já que isso afetará o desenvolvimento da linguagem e da fala. Assim como no caso da acuidade visual, as Diretrizes de Atenção à pessoas com síndrome de Down do Ministério da Saúde indicam a necessidade de avaliação de acuidade auditiva anual.

Estratégias:

– Coloque a criança perto do adulto num trabalho de grupo.

– Fale diretamente à criança.

– Acentue o início e o final das frases.

– Reforce a fala com expressões faciais, sinais ou gestos.

– Reforce a fala com apoio visual – imagens impressas, fotos, materiais concretos.

– Quando outra criança responder, repita as respostas delas em voz alta.

– Reformule ou repita palavras e frases que possam não ter sido bem ouvidas.

C. Atraso nas habilidades motoras grossas e finas

Devido à hipotonia (baixo tônus muscular), crianças com síndrome de Down em geral apresentam atraso no alcance dos marcos de desenvolvimento motor. Além disso, pessoas com síndrome de Down apresentam ligamentos frouxos, o que significa que muitas possuem alta flexibilidade e grande variação de movimentos. A junção do polegar pode ser especialmente flexível. Isso, combinado com o baixo tônus nos dedos e no pulso, assim como dedos menores e de menor fricção, pode atrapalhar a aquisição das habilidades escritas.

Pesquisas sugerem que várias crianças com síndrome de Down têm dificuldades no processamento de informações que recebem dos sentidos e na coordenação dos movimentos. O caminho neuromotor delas parece ser relativamente insuficiente e demorar mais tempo para se estabelecer. Estudos também mostram tempos de reação menores, com dificuldades em adaptação de movimentos. Como resultado, embora os músculos possam realizar os movimentos, eles geralmente são realizados de forma mais devagar e descoordenada.

Estratégias:

– Certifique-se de que ao sentar-se o aluno possa descansar os pés numa superfície sólida, isto é, o chão ou um descanso.

– Use uma prancha inclinada para ela escrever ou coloque um livro para permitir que a criança sente com a postura reta e possa fazer pressão no papel para a escrita.

– Providencie prática extra. Todas as habilidades motoras melhoram com a prática.

– Use atividades variadas e materiais multissensoriais.

– Encoraje exercícios manuais para aumentar a consciência corporal – abrir/fechar/esfregar as mãos, bater o polegar com os outros dedos, etc.

– Encoraje exercícios de fortalecimento para pulsos e dedos: fazer movimentos de rosca, fazer traços, desenhar, arrumar, cortar, montar, cortar papel, pressionar bolas, martelar pinos, usar pinos para apoiar roupas e clipes para juntar papéis.

– Encoraje exercícios de coordenação entre olhos e mãos: músicas com rimas a respeito dos dedos, tocar telas, pintura com os dedos, ligar pontos, seguir labirintos, jogos de montar e empilhar.

– Encoraje exercícios de cortar, excelentes para todo tipo de fortalecimento e coordenação. Ofereça tesouras com buraco para o dedão se necessário, e cartões finos que sejam mais fáceis de cortar do que papel.

– Encoraje a empunhadura certa ao pegar um lápis, com os dedos polegar e indicador: use o auxílio de borrachas para apoiar os dedos em torno do lápis, quadros de imãs e tachinhas sem ponta, pequenos pedaços de lápis de cera que não caberão na palma da mão, lápis grossos, triangulares.

– Marque com marca-texto as linhas de uma página para a escrita e faça caixas para pequenas frases para encorajar a constância do tamanho das letras.

– Certifique-se de que a criança esteja com seu desenvolvimento pronto para a escrita.

D. Dificuldades de fala e linguagem

A maioria das crianças com síndrome de Down apresenta algum grau de deficiência na fala e na linguagem. A maior parte começará a falar após os três anos. No entanto, quase todas conseguem se comunicar extremamente bem desde cedo com muito pouco ou nenhum uso da linguagem falada, fazendo uso de sinais, gestos e linguagem corporal. Essas dificuldades na fala resultam normalmente em mais baixa interação e num vocabulário menor e menos conhecimento geral, causando atraso em outros aspectos do desenvolvimento cognitivo.

O atraso de linguagem é causado por uma combinação de fatores, alguns deles físicos e outros mais relacionados a dificuldades perceptivas ou dificuldades cognitivas mais profundas. Qualquer atraso em aprender a compreender e usar a linguagem tende a levar a atrasos cognitivos. Suas habilidades receptivas geralmente são maiores que habilidades expressivas. Isto significa que elas costumam entender muito mais do que falam. Como resultado, suas habilidades cognitivas frequentemente são subestimadas, levando os adultos com os quais elas convivem a envolvê-las de forma menos intensiva em contextos comunicativos.

Sabendo que a criança não irá falar e partindo do princípio errôneo de que isto se dá porque ela não entende o que ouve, é comum que os responsáveis e profissionais que convivem com elas não dirijam perguntas a elas, nem expliquem as atividades que estão realizando e situações que estão sendo vivenciadas. Elas acabam por ter menos oportunidades de participar de conversas. Adultos tendem a fazer perguntas fechadas ou terminarem uma frase para a criança, sem dar a elas o tempo ou a ajuda necessária para que o façam por elas mesmas. É mais difícil para elas perguntar por uma informação ou pedir ajuda.

Para encorajar e desenvolver a fala de crianças com síndrome de Down, é vital que todas oportunidades sejam dadas para auxiliar sua comunicação e compreensão. O Movimento Down oferece um amplo material de apoio para estimular a comunicação com crianças com síndrome de Down na seção “Parceiros na Comunicação”. Elas devem ser vistas regularmente por um fonoaudiólogo que pode sugerir atividades individualizadas que promovam seu desenvolvimento na fala e na linguagem e melhore a clareza e fluência da fala.

Ensinar crianças com síndrome de Down a usar sinais e gestos é um auxílio imenso tanto para as habilidades de compreensão quanto para as de comunicação. Sinais e fala são usados juntos: conforme a criança se torna mais capaz de dizer palavras, os gestos começam a desaparecer.

Traços comuns do atraso na aquisição da linguagem:

• Dificuldade em compreender instruções
• Vocabulário menor, levando a menor conhecimento geral
• Dificuldades na aprendizagem das regras da gramática (deixando de usar palavras de conexão, preposições, etc.), resultando num estilo telegráfico de fala
• Problemas maiores na aprendizagem e no trato com a linguagem social
Além disso, a combinação de uma cavidade bucal menor e uma boca e músculos da língua mais fracos torna mais difícil para eles fisicamente formarem palavras. Quanto mais longa a frase, maiores se tornam os problemas de articulação.

Estratégias:

– Dê tempo à criança para ela processar a linguagem e responder – tente deixar pelo menos cinco segundos para a resposta – você ficará surpreso com o quanto a criança reteve!

– Ouça cuidadosamente – seu ouvido se ajustará.

– Garanta contato cara a cara e olhando direto nos olhos.

– Use linguagem simples e familiar, e frases curtas e concisas.

– Verifique a compreensão – peça à criança que repita as instruções.

– Evite vocabulário ambíguo.

– Reforce a fala com expressões visuais, gestos e sinais.

– Reforce instruções faladas com imagens impressas, fotos, diagramas, símbolos e materiais concretos.

– Evite perguntas fechadas e encoraje a criança a falar mais do que declarações de uma palavra só.

– Encoraje a criança a falar alto oferecendo algo que a estimule visualmente.

– Use materiais concretos, por exemplo, bonecos, cartões que liguem imagens a palavras, letras para montar palavras, a fim de promover o desenvolvimento da linguagem.

E. Memória auditiva de curto-prazo reduzida

Outras dificuldades de fala e linguagem nas crianças com síndrome de Down provêm de dificuldades com a memória auditiva de curto-prazo e habilidades de processamento. A memória auditiva de curto-prazo é o armazenamento de memória que leva a reter, processar, compreender e assimilar a linguagem falada por tempo o bastante até que se possa responder.

Qualquer déficit na memória auditiva de curto-prazo afetará bastante a habilidade da pessoa em responder à palavra falada ou aprender com qualquer situação que dependa totalmente das suas habilidades auditivas. Além disso, ela encontrará mais dificuldade para reter e seguir instruções faladas.
Para superar alguns desses problemas de memória, pesquisas têm mostrado que introduzir novas palavras no vocabulário falado das crianças através da palavra escrita pode ser altamente efetivo. Ensinar crianças pequenas com síndrome de Down a ler pode ajudar a fala delas, visto que a palavra escrita serve como um estímulo visual.

O déficit na memória auditiva de curto prazo provoca algumas dificuldades para os alunos em situações escolares. Sentar -se para ouvir uma história, participar de discussões em grupo, cálculos mentais, aprender vocabulário novo e não familiar e copiar frases longas podem ser tarefas bastante difíceis para crianças com síndrome de Down. Neste caso, é interessante avaliar se é o caso de desenvolver uma adaptação curricular.

Estratégias:

– Use uma quantidade de palavras limitada para dar instruções de uma vez só.

– Dê tempo à criança para processar e responder à demanda verbal.

– Simplifique e repita individualmente para a criança qualquer informação/instrução dada ao grupo como um todo.

– Quando ensinar vocabulário novo, use objetos concretos ou fotografias de objetos reais, não desenhos.

– Ensine palavras novas usando o método “relacione, selecione, nomeie”.

Lembre-se: alunos com síndrome de Down costumam ser fortes na aprendizagem visual, mas fracos na aprendizagem auditiva. Precisam de apoio visual e concreto, com materiais práticos para reforçar o estímulo auditivo.

F. Período de concentração menor

Muitos alunos com síndrome de Down têm um período de concentração menor e são facilmente distraídos. Eles também se cansam mais facilmente do que seus colegas.

Estratégias:

– Ofereça uma variedade de atividades curtas, focadas e de definição clara.

– Mude a atividade regularmente.

– Varie o nível de demanda de tarefa para tarefa.

– Dê intervalos freqüentes das tarefas propostas.

– Encoraje os colegas a brincar com a criança ou perto dela.

– Crie uma caixa de atividades. Isso é útil para quando a criança terminou uma atividade antes de seus colegas e precisa de uma nova atividade ou tempo de pausa. Coloque dentro da caixa uma série de atividades que a criança goste de fazer, incluindo livros, cartões, jogos de habilidade motora fina, etc. Isso encoraja a escolha dentro de situações estruturadas. Permitir que outra criança se junte ao aluno é uma boa maneira de estimular a amizade e a cooperação.

G. Dificuldades de Generalização, pensamento abstrato e raciocínio

Quando uma criança tem deficiências de fala e linguagem, o pensamento e o raciocínio são inevitavelmente afetados. Elas encontram mais dificuldade em transferir habilidades de uma situação para outra.

Estratégias:

-Não acredite que a criança vai transferir conhecimento automaticamente.

– Ensine novas habilidades usando uma variedade de métodos e materiais em diversos tipos de contexto.

– Reforce a aprendizagem de conceitos abstratos por meio de materiais concretos e visuais.

– Ofereça explicações e demonstrações extras.

– Encoraje a resolução de problemas.

H. Dificuldade de consolidação e retenção

Crianças com síndrome de Down geralmente levam mais tempo para aprender a consolidar novas habilidades. A capacidade de aprender e reter pode variar de dia para dia.

Estratégias:

– Ofereça tempo extra e oportunidades para repetições adicionais e reforço;

– Apresente novas habilidades e conceitos de maneiras variadas, usando materiais concretos, práticos e visuais sempre que possível;

– Siga em frente no programa, mas verifique continuamente se as habilidades aprendidas anteriormente não foram sobrepostas pelos estímulos mais recentes.

G. Comportamento

Não há problemas de comportamento específicos das crianças com síndrome de Down. No entanto, grande parte do comportamento delas será relacionada aos seus níveis de desenvolvimento.

Além disso, crianças com síndrome de Down crescem tendo que enfrentar mais dificuldades do que vários dos seus colegas. Muito do que se espera que eles cumpram em suas vidas cotidianas terá sido mais difícil de realizar devido aos problemas com a fala e a linguagem, com a memória auditiva de curto-prazo, o atraso na coordenação motora, o período de concentração menor e as dificuldades de aprendizagem em geral.

O limiar a partir do qual se iniciam os problemas de comportamento pode, portanto, ser mais baixo em comparação com outros alunos. Isto é, crianças com síndrome de Down tendem a ficar frustradas e ansiosas mais facilmente. Assim, apesar da síndrome de Down não levar inevitavelmente a problemas de comportamento, a natureza das dificuldades presentes torna essas crianças mais vulneráveis ao desenvolvimento de comportamentos inapropriados.

Um aspecto especial dos problemas comportamentais é o uso de estratégias de manipulação. Pesquisas têm mostrado que, como muitas crianças com deficiência, aquelas com síndrome de Down tendem a adotar tais estratégias, o que prejudica o progresso da aprendizagem. Algumas crianças tendem a usar comportamentos sociais para distrair a atenção dos adultos e evitar a aprendizagem, e parecem preparadas apenas para trabalhar em metas enquadradas numa faixa muito estreita e definida. É importante manter-se atento à possibilidade de manipulação, separando comportamento imaturo de comportamento deliberadamente inapropriado.

O processo de construção da autoconfiança envolve avanços e retrocessos. As crianças podem fazer birra diante de frustrações, demonstrar sentimentos como vergonha e medo ou ter pesadelos, necessitando de apoio e compreensão dos pais e professores.

O comportamento inapropriado pode ser motivado por:

• Busca de atenção, especialmente se a criança não está acostumada a trabalhar em grupo, dividindo ou revezando;
• Confusão ou incerteza, quando a criança não tem clareza do que é esperado dela ou falhou na compreensão ou na lembrança do que lhe disseram;
• Raiva ou frustração, quando são afastados da companhia de seus amigos para fazer trabalho especial ou lhes dão tarefas muito difíceis ou muito fáceis;
• A necessidade de controle, quando a criança recebe pouca opção ou é ajudada além do necessário;
• Imaturidade, quando a criança não está com seu desenvolvimento preparado para uma tarefa como ser treinada no uso do banheiro ou a participar de brincadeiras cooperativas.

Estratégias:

– Certifique-se de que as regras estejam claras.

– Certifique-se de que o aluno entende o que é esperado dele.

– Certifique-se de que toda a equipe saiba que a criança precisa ser disciplinada junto com seus colegas, e que a equipe esteja ciente das estratégias que são e serão usadas.

– Use instruções claras e curtas e linguagem corporal clara para reforço: explicações longas demais e raciocínios excessivamente complexos não são apropriados.

– Distinga o “não pode” do “não serve”.

– Investigue qualquer comportamento inapropriado, perguntando a si mesmo a razão da criança em agir de tal maneira. Por exemplo:

. A tarefa é difícil ou fácil demais?
. A tarefa é longa demais?
. O trabalho está diferenciado apropriadamente?
. As instruções são claras?

– Encoraje o comportamento positivo desenvolvendo imagens de estímulo ao bom comportamento. Por exemplo, mostrar uma foto deles mesmos ou de outros organizando algo ou bem arrumado pode ser o bastante para encorajá-los.

– Certifique-se que o assistente do professor (se houver) não é o único adulto em sala de aula a lidar com a criança. O professor é o maior responsável.

– Certifique-se de que a criança esteja trabalhando com colegas que atuam como bons modelos para ela.

– Estabeleça boas ligações com os pais e discuta estratégias de comportamento em conjunto com eles.